Sexta-Feira "Santa"?

Enquanto alguns se ajoelham em genuína contrição diante do Cristo crucificado na Sexta-feira Santa, há quem prefira cair de boca nos copos, transformando o dia da Paixão em pura e desenfreada embriaguez.

Ah, as peculiares formas de "devoção" brasileira! De um lado, procissões silenciosas e jejum; do outro, garrafas esvaziadas e pileques monumentais que fariam até Baco corar de vergonha.

Prepare-se para uma peregrinação pelo lado B da Sexta-feira Santa, onde o sagrado e o profano se encontram nas esquinas empoeiradas do solo soteropolitano. Em algumas comunidades, a tradição religiosa ganhou contornos tão surpreendentes que você não saberá se ri, se chora ou se benze. Afinal, qual seria a reação de Jesus ao descobrir que, no dia dedicado à sua suprema renúncia, muitos celebram com o mais absoluto descontrole? Continue a leitura e descubra como o dia mais solene do calendário cristão pode se transformar em uma experiência perturbadoramente oposta a tudo o que se esperaria.

A Sexta-feira Santa

Ah, a Sexta-feira Santa, esse dia solene em que os cristãos de todo o mundo se reúnem para lembrar o sacrifício de Jesus Cristo. Um dia de reflexão profunda, abstinência e espiritualidade. Ou, pelo menos, era para ser, mas, como dizem, por que perder a oportunidade de transformar um momento de reverência em uma festa de arromba? E assim, em algumas comunidades, nasce a “sexta-feira satânica”, uma versão peculiarmente distorcida dessa data sagrada.

Ao amanhecer, enquanto o resto do mundo cristão se prepara para um dia de meditação e jejum, essas localidades dão o pontapé inicial no “baba do vinho”. Homens vestidos de mulheres, porque nada diz respeito e memória como um bom jogo de futebol em drag, correm pelas ruas, transformando a sagrada Sexta-feira Santa em uma espécie de carnaval fora de época. E, claro, o que seria de um evento tão espiritual sem o consumo excessivo de álcool para garantir que o verdadeiro significado do dia seja adequadamente esquecido?

Avançamos para o almoço, um banquete de pratos ricos em azeite de dendê, porque, aparentemente, a única regra que se mantém é a de não comer carne. Mas não se preocupe, a abstinência de carne é compensada com abundância de álcool, garantindo que todos estejam devidamente preparados para as atividades da tarde, que, sem dúvida, seguirão o tema de reflexão e moderação do dia.

E, como é de esperar, essa celebração da “sexta-feira satânica” muitas vezes culmina em acidentes de trânsito e conflitos familiares, um verdadeiro testemunho do espírito comunitário e da conexão espiritual que o dia deveria promover. Os serviços de emergência e a polícia devem estar encantados com a oportunidade de participar dessas festividades, lidando com as consequências de tais expressões de fé e devoção.

Assim, a Sexta-feira Santa é transformada, não em um momento de silêncio e sacrifício, mas em uma exibição de excessos e desvios que certamente faria Jesus Cristo questionar sua agenda para o dia. Afinal, quem precisa de reflexão e redenção quando se pode ter a "sexta-feira-satânica", um dia em que a ironia de desvirtuar completamente o propósito de uma data sagrada é celebrada com todo o fervor e falta de sobriedade possível. Ah, a humanidade, nunca perdendo a chance de elevar o espírito... de alguma forma.

Eu me recordo um ano em que trabalhei na Central da Policia Militar atendendo ao 190, quando deu 17h os telefones não paravam, eram ocorrências de facadas, tiros, em quase todos os bairros periféricos da cidade. Eu atendia a área da Suburbana, meu amigo, parecia que soltaram todos os demônios naquele lugar, era briga de família, briga de rua, do Lobato a São Tomé de Paripe, nem no carnaval eu já havia presenciado tantas ocorrências em tão pouco tempo.

Não tive a menor dúvida, para muitos que se entregaram aos excessos da carne dizendo estarem comemorando a Sexta-Feira santa, estavam, na verdade vivendo a sexta-feira satânica.

Washington Pêpe - 29/03/2024.